quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Aerobombas


As energias renováveis estão, cada vez mais, na ordem do dia. Nem sempre temos presente que a sua utilização remonta a tempos imemoriáveis! Se não veja-se: desde quando se utiliza a energia hídrica ou a energia do vento, em moinhos, para fabricação da preciosa farinha, matéria-prima fundamental à sobrevivência da humanidade, tendo em conta que sem ela não teríamos acesso ao pão nosso de cada dia ?
Não é, contudo, dessa aplicação de energia que quero falar hoje, mas sim da utilização da energia eólica para que o homem possa, em determinadas circunstâncias, aceder a um bem que reputo de mais importante ainda, para todos os seres vivos, que o próprio pão. Obviamente que me estou a referir à água.
Como já adivinharam, o que pretendo é falar de aeromotores ou mais propriamente de aerobombas, utilizadas para bombear água nas mais diversas situações, tanto para abastecimento de habitações para consumo doméstico, como na agricultura para rega.
O "Aermotor Chicago", fabricado nos EUA, desde 1888, foi o mais popularizado deste tipo de engenhos no século XX. Isso deveu-se à fiabilidade que foi sistematicamente melhorada ao longo dos 120 anos da sua exisência o que lhe valeu o apelido de Cadillac do ar. O que começou por ser quase uma brincadeira tornou-se um caso sério de grande sucesso. Ainda hoje continua em produção. É possível com ele extrair o indispensavel líquido de uma profundidade de cerca de oitenta metros. Foi desenvolvido pelo engenheiro Thomas O. Perry e aprovado por Laverne Noyes fundador da Companhia Aermotor.
No primeiro ano de produção apenas foram vendidas 24 unidades. Dois anos depois a área ocupada pelas instalações teve que ser duplicada passando a ocupar um acre. Em 1892, ou seja decorridos apenas quatro anos, desde o início, já as vendas atingiram os 20.000 exemplares! Em 1904 o catálogo da Aermotor já listava vasta gama de acessórios, desde bombas manuais a depósitos metálicos....
Os revolucionários métodos de produção permitiram reduzir os preços para cerca de 1/6!
Em 1915 foi introduzida uma grande inovação que consistiu num sistema de autolubrificação, que ocasionou uma redução drástica nas intervenções de manutenção. Passou apenas a ser necessária uma anualmente.
De 1915 até aos nossos dias o Aermotor Chicago foi produzido em quatro modelos diferentes. O mais frequente é o modelo 702, em produção desde 1933. Os modelos 502 (apenas produzido em 1915) e o 602 (fabricado entre 1916 e 1933) são os menos comuns. Pode mesmo afirmar-se que do modelo 502 são raríssimos os exemplares ainda existentes. A Chicago apresentou o modelo 802 em 1981, que devido ao seu design e à excelente qualidade e fiabilidade se tornou no mais popular sistema de bombagem de água nos Estados Unidos.
Esta popularidade estendeu-se um pouco por todo o planeta. Em portugal também foram utilizados em escala considerável. Ainda hoje se encontram muitos exemplares, nomeadamente na região de Lisboa. Lamentavelmente quase todos se encontram em avançado estado de degradação. São já mesmo extremamente raros, entre nós, os que ainda se encontram operativos! Chega a ser incompreensível ao estado a que se deixou chegar o parque deste equipamento de grande qualidade e tão amigo do ambiente, como agora se costuma dizer. Até dá pena olhar para as ruinas de muitos, que por aí se encontram, ainda assim apresentam-se na paisagem com alguma imponência. Vão, também eles, morrendo de pé! Segundo julgo saber, uma das causas que contribuiu para que esta siuação se verifique prende-se com a falta de técnicos para proceder à sua reparação e manutenção. Recordo ainda a existência, em Lisboa, situada na Mouraria, no número 32 da Rua joão do Outeiro, da oficina de Agusto Marinheiro, que ao que penso era também importador. Ao que parece chegou a mudar a oficina para a Linha de Sintra, penso que para o Cacém ou por aí assim. Também no Montijo havia quem trabalhasse no ramo.
A peça fundamental do moinho é a roda constituída por lâminas curvas de aço galvanizado rebitadas ao volante, que, por sua vez, é fixado através de grampos à barra curva das jantes.
O funcionamento da denominada American Farm Wind Pump é na sua essência bastante simples. O rotor, de 12 a 24 palas, acciona uma bomba de pistão, utilizando um mecanismo de biela e manivela acoplado a uma barra vertical.
Por favor, não se esqueça, se acaso é proprietário de algum exemplar destes moinhos e se tiver possibilidade, tente recuperá-lo. Se conseguir vai ganhar o ambiente e você vai, estou certo, ficar mais feliz, e até com mais saúde!
Quem sabe se um dia destes nos vamos encontrar por aí!
Até lá.
Jogilbo